AVISO: Post loooongo e não aconselhável a mamãs à espera do primeiro bebé ;)
O parto deste 2º bebé foi tudo aquilo que eu não estava à espera. Não o imaginei melhor nem pior, simplesmente diferente. Na verdade, tinha apenas um desejo: não estar no hospital quando tudo começasse. Apesar das dores e do cansaço, estava disposta a esperar que fosse o Gonçalo a decidir nascer. Imaginei que, nessa altura, ficaria sossegada em casa até achar que era realmente hora de ir para o hospital e que lá tudo se passaria bastante depressa. Mas nestas coisas nós pouco mandamos e tudo acabou por ser diferente.
No dia 4 de Fevereiro tivemos a que seria a última consulta no Centro de Saúde, com a nossa médica de família. O Bruno nem sequer era para ter ido comigo, mas nesse dia chegou bastante cedo a casa e fomos os 3. Quando chegou a hora de ouvir o coração do Gonçalo, percebi que algo não estava bem e a cara da médica mostrou isso mesmo. Os batimentos estavam completamente descompassados, pareciam aos soluços e fomos imediatamente recambiados para a urgência do hospital. Deixámos a Matilde com o padrinho, fomos buscar a mala just in case e seguimos. Não sei explicar muito bem o que estava a sentir. Depois de duas gravidezes sem qualquer incidente que fosse, sem qualquer motivo de preocupação, parecia que estava a ver a cena de fora e que não estava a acontecer comigo.
Quando finalmente fui atendida e examinada, tudo parecia estar bem e o coração dele batia normalmente, mas quando me ligaram ao CTG perceberam que os batimentos estavam realmente alterados (embora ficassem normais consoante a posição em que eu estava) e que eu estava já com contracções regulares, embora sem quaisquer dores. Estive ligada cerca de uma hora até que fui novamente examinada e o médico achou que a coisa se daria durante a madrugada, que o melhor era nem me ir embora. Ainda tentei argumentar, disse que voltava passadas umas horas, que não valia a pena ficar já internada, mas perante o peremptório "não quer ficar não fica, eu dou-lhe alta e volta quando quiser" e o olhar receoso da enfermeira ao meu lado como quem diz "não faça isso", contrariada, fiquei. Naquele momento percebi se seguia a única coisa que eu não queria que acontecesse: ia ficar amarrada a uma cama, ligada ao CTG e ao soro, sem poder comer nem beber, à espera. Passei a noite inteira assim, a virar-me de um lado para o outro em busca da melhor posição para ouvir correctamente os batimentos cardíacos do Gonçalo, cheia de fome e sede, frustrada e revoltada por tudo ter saído ao contrário do que eu tinha imaginado. Segundo o que me disseram, estava com quase 4 dedos de dilatação o que me dava alguma esperança de que a coisa se desenrolasse rapidamente, mas quando pela manhã o cenário permanecia inalterado comecei a ficar desesperada. A hipótese de cesariana estava inclusive em cima da mesa, caso os batimentos cardíacos dele não normalizassem e quando as duas senhoras que estavam comigo na sala de dilatação (uma já lá estava e outra tinha chegado entretanto) foram ter os seus bebés e os ouvi chorar correram-me as lágrimas pela cara abaixo, por ainda ali estar. Parece parvo, porque eu nem sequer tinha dores, mas isso ainda me angustiava mais porque só significava que ainda nem tinha começado e eu já ali estava há tantas horas.
Finalmente, a meio da manhã, os batimentos cardíacos do Gonçalo normalizaram e voltaram a acrescentar ao soro a oxitocina, que tinham parado durante a noite. Passado algum tempo fizeram a ruptura de membranas e quando cheguei aos 5 dedos de dilatação a enfermeira disse-me que avisasse quando e se quisesse a epidural. Eu ainda estava bem e as contracções eram suportáveis. Ao 297686563º toque, o espanto: afinal o colo não estava nada apagado - pararam a oxitocina e deram-me 1/4 de comprido para dissolver na boca. Depois disto, foi tudo muito rápido: as contrações começaram finalmente a apertar e chegaram as dores - entrávamos em acção. Yes! É claro que este "yes!" rapidamente passou a um "oh, f***, não acredito que me esqueci como isto era!!" :)
Pude levantar-me (vá lá) embora sempre ligada ao CTG e usar a bola (que alívio!!) que permitiu que o Gonçalo se encaixasse melhor. A dada altura as dores ficaram cada vez mais fortes, pedi a anestesia, mas tive que esperar o que me pareceu uma eternidade para que o colo do útero finalmente ficasse apagado e para que a anestesia não parasse o processo. Cada contracção era mais dolorosa e prolongada que a anterior... eu só pensava que não aguentava mais nenhuma, mas a verdade é que aguentamos!
Quando finalmente chegou a anestesista estava com 6 (sete?) dedos de dilatação (um déjà vu!) e eu já sentia uma pressão enorme, mas calei-me caladinha. Ao contrário do que aconteceu no parto da Matilde, não cheguei a ficar sem dores e a ter uns momentos de descanso... a anestesia aliviou um bocadinho mas a dor nas costas era constante e só acalmava ligeiramente quando o Bruno (que esteve sempre comigo tirando da meia-noite às 7h da manhã) fazia muita, MUITA força nessa zona. Não deve ter passado meia hora e comecei a ter vontade de fazer força - estava na hora de passar para a sala de partos.
Lá, a primeira coisa que me disseram para fazer antes de subir para a marquesa foi colocar-me de cócoras e puxar com muita força na próxima contração. Assim que o fiz, senti nitidamente o Gonçalo a descer e a cabeça a querer sair, um ardor imenso e o pânico tomou conta de mim. Lembro de dizer (gritar?), feita parva "é a cabeça, é a cabeça!" e de pensar "não, esqueçam, pára tudo, não quero, vou-me embora!!". Lol.
Deitei-me na marquesa, levantaram as grades laterais e só tive tempo de me agarrar e ouvir ao longe algumas instruções da enfermeira - outra contracção. Ainda eu me estava a preparar para mais uma, quando senti a enfermeira rodear com os dedos a cabeça do Gonçalo para permitir que ele saísse mais facilmente. As dores foram tantas que não consegui evitar um grande grito (o Bruno tem um bocadinho de filme desta parte, tenho pena que não tenha filmado tudo!) e de pensar de seguida "não vou ficar aqui no vai não vai, é agora ou nunca!". Sabia que era uma questão de segundos e que assim que ele saísse tudo terminava, por isso investi toda a força que tinha e puxei, muito muito! Ouvi a enfermeira dizer "força, é isso mesmo, boa!" o que ainda me deu mais ganas de terminar tudo de uma vez. Senti a cabeça sair, e passados alguns segundos o corpinho dele estava todo cá fora :))) Só não me apercebi que entre a cabeça e o resto fechei as pernas!!! Ups! Na verdade, tirando estes pensamentos que me iam assaltando a mente, não me lembro de grande parte do que aconteceu... estava a modos que num transe! :)
Nasceu às 14h39 do dia 5 de Fevereiro de 2013. O pai pediu para cortar o cordão umbilical (à semelhança do que aconteceu com a irmã) e o meu bebé lindo estava finalmente em cima de mim e tudo tinha terminado! Chorou só depois de um beliscão que lhe deram, enquanto a enfermeira dizia "vá, ralha com a tua mãe, que fechou as pernas e não te deixou sair!". Depois foi para a salinha do lado onde o limparam, examinaram e pesaram (Apgar 10/10, 3385g e 51cm de gente!) e o pai vestiu-lhe a sua primeira roupinha.
Ainda na sala de partos, logo depois de a enfermeira retirar a placenta e os restos que ainda estavam dentro do útero (e de me mostrar, já que não tinha visto no nascimento da Matilde e tinha ficado curiosa), comecei a pensar no que se seguiria e perguntei-lhe se o "estrago" tinha sido muito grande. A resposta dela foi a cereja no topo do bolo: "não precisa de pontos nenhuns". :)) Depois do pós-parto da Matilde, que me custou tanto durante semanas (tanto que disse várias vezes que preferia parir outra vez!), nem queria acreditar que à segunda não teria que passar por nada disso. Ainda lhe perguntei umas duas ou três vezes se ela tinha a certeza! :)
Todos foram tremendamente atenciosos desde que fui atendida até que tivemos os dois alta e fui, sem dúvida alguma, bem melhor tratada do que na MAC. Até pode ter a ver com o facto de agora o Hospital de VFX ser gerido por uma entidade privada, mas acho que não. Se eu soubesse o que sei hoje, tinha tido lá a minha filha também!
O Bruno diz que, aos olhos dele, este 2º parto custou mais e foi mais doloroso (é possível, mas eu não consigo vê-los com clareza). A verdade é que este pós-parto compensou (e está a compensar) tudo o que possa ter ficado aquém do que eu tinha imaginado. Pude desfrutar ao máximo o meu bebé desde o primeiro dia, sem ter dores para fazer tudo e mais alguma coisa... E desde o 3º ou 4º dia que a hemorragia ficou bem ligeira, ao ponto de ser possível andar apenas com um pensinho diário. É uma diferença tão abismal, que o meu desejo é que todas as mamãs pudessem ter esta oportunidade!
E foi assim :)